Lixeiras superlotadas de resíduos e críticas
O formato das lixeiras é o principal alvo de críticas. Na semana passada, a dona de casa Marisa Gomes Lira, de 45 anos, moradora de Copacabana, foi buscar uma encomenda nos Correios e, ansiosa, abriu o pacote a caminho de casa. Quis jogar o embrulho fora, mas, como a caixa de papelão não entrava pela abertura da papel, acabou deixando o pacote em cima da papeleira.
— Canso de deixar coco e sacos maiores sobre ela — conta.
Urbanista e ex-presidente da Comlurb, Manoel Sanches também acha que o desenho atual não atende às necessidades. Trazido de Portugal, o modelo tem capacidade para 50 litros e abertura de 40 centímetros de largura por 12 de altura.
— O estudo para aperfeiçoar as lixeiras precisa levar em conta as peculiaridades do clima do Rio e também a quantidade de material que a população costuma descartar — diz Sanches.
Na opinião de especialistas, a Comlurb deveria ainda ouvir garis e recicladores para buscar uma lixeira mais funcional para quem trabalha na coleta.
Com a mão no lixo
A coordenadora do curso de Desenho Industrial da UFRJ, Beany Monteiro, avalia que o desenho e as dimensões das atuais papeleiras obrigam cariocas e turistas a "meter a mão no lixo":
— Como as lixeiras têm boca estreita e vivem lotadas, muitas vezes, a pessoa tem que quase enfiar a mão no buraco para jogar um papel lá dentro.
Em 2012, Beany Monteiro orientou um grupo de alunos no projeto de uma lixeira, batizada de Ecoco! e premiada com a medalha de bronze no prêmio IDEA, da Industrial Designers Society of America (IDSA). O modelo tem dois compartimentos: um para lixo comum, com abertura lateral, e outro de boca maior, apenas para cocos. Ela acha que o conceito deveria ser seguido pelo município.
— Antes de desenhar o produto, os alunos foram às ruas observar a população e conversaram com garis. Conhecer o hábito do usuário é fundamental. Nossas lixeiras não foram feitas para nossa realidade litorânea. Independente de estarmos ou não à beira-mar, as praias são uma referência — completa Beany, também crítica do pequeno número de lixeiras nas ruas.
Para Adacto Ottoni, engenheiro sanitarista e professor da Uerj, a prefeitura e a Comlurb precisam dar o exemplo antes de aplicar as multas:
— O lixo na rua também é problema da Comlurb. Vemos várias lixeiras transbordando. E as pessoas não têm local de descarte.
Atualmente, o Rio tem 30 mil lixeiras (uma para cada 213 habitantes) e deve ganhar em breve mais sete mil, segundo a Comlurb. Em São Paulo, são 186 mil (uma para cada 58 pessoas). No contraste, está Curitiba, que, com 4.200 lixeiras públicas (uma para cada 417 pessoas), é reconhecida por sua limpeza. Mas, para o presidente da Comlurb, Vinícius Roriz, a quantidade não é justificativa para jogar lixo no chão. Ele cita o exemplo de Tóquio, no Japão, onde quase não existem lixeiras nas ruas.
— O lixo é responsabilidade de cada cidadão. Nosso objetivo não é apenas multar. Queremos que a fiscalização mude o comportamento das pessoas — diz.
Segundo ele, já está em estudo um novo modelo de lixeira, com formato e materiais adequados. Com relação aos cocos, a Comlurb informou que vai se reunir com vendedores que atuam nas praias e outros locais públicos para fazer o planejamento do descarte, já que eles são responsáveis pelo destino do produto.
Para Walter Plácido, especialista em resíduos sólidos, as lixeiras laranjas cumprem seu papel, mas falta uma opção para volumes maiores e um programa de reciclagem.
Em outras metrópoles, modelos vão de antibomba a 'high-tech'
Os muitos modelos de lixeiras mundo afora dão ideia da infinidade de critérios que podem ser considerados na hora de escolher o que melhor atende à população. Em Paris, por exemplo, as lixeiras costumam ter sua estética criticada, porque na capital francesa a prioridade foi afastar terroristas e a colocação de bombas em seu interior. Assim, o modelo se constitui numa armação metálica circular que segura um saco plástico.
As lixeiras de Paris mudaram após dois ataques ocorridos em 1995, com bombas escondidas, que deixaram 28 feridos. O modelo atual tem uma abertura de bom tamanho para pôr os detritos, mas, às vezes, os sacos se rasgam, e a sujeira cai no chão. A prefeitura estuda modernizar o design, chegando a um modelo mais elegante e feito com material antideflagração de explosivos.
Já em Tóquio, um ataque terrorista com gás sarin em 1995, que causou 13 mortos, praticamente baniu as lixeiras da cidade, o que não a impede de sustentar o título de uma das mais limpas do mundo. Só nas grandes estações de trem e em frente às lojas de conveniência é possível achá-las mais facilmente. Elas têm abertura estreita e divisões para papel, plástico, vidro e metal. Se os estrangeiros reclamam por andar tanto até se desfazer do lixo, os japoneses convivem sem traumas com o sumiço das lixeiras. A reciclagem no país é lei.
Em Nova York, a maioria das latas de lixo ainda segue o modelo grande de metal e sem tampa. Mas elas começam a ser substituídas por um tipo mais moderno e ecologicamente correto. Desde 2011, lixeiras computadorizadas e movidas a energia solar vêm sendo instaladas pela cidade. Elas compactam os resíduos automaticamente, armazenam cinco vezes mais lixo do que um receptáculo comum e são monitoradas remotamente para que a coleta só passe quando necessário. E permanecem funcionando por até três dias sem sol. Como cada unidade custa cerca de US$ 3 mil, a aquisição tem ajuda da iniciativa privada.
A prefeitura de Buenos Aires também tem investido em novas lixeiras, parte de um programa de renovação do espaço público. O novo modelo, nas cores laranja e preto, lembra a atual versão carioca. As lixeiras destinadas à reciclagem são verdes e podem ser vistas em avenidas importantes da capital argentina.
Fonte: OGlobo.com
#Lixo
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