Gás de xisto faz EUA sonhar com autossuficiência energética


O gás é mais barato que a gasolina e menos poluente que o carvão, mas os riscos para o meio ambiente ainda não são totalmente conhecidos.

Uma fonte de energia que pode tornar o mundo menos dependente do petróleo. O gás de xisto é mais barato que a gasolina, menos poluente que o carvão e já faz a economia americana sonhar com a autossuficiência energética.

Mas os riscos para o meio ambiente ainda não são totalmente conhecidos. O Bom Dia Brasil foi até a Pensilvânia conhecer de perto essa riqueza. A maior jazida das Américas está a milhares de metros abaixo da terra.

Há 400 milhões de anos, no meio do estado da Pensilvânia, a rocha era lama no fundo de um oceano. Hoje forma uma camada contínua, imensa, a mais de um quilômetro de profundidade, que atravessa quatro estados americanos: Nova York, Pensilvânia, Ohio e Virgínia Ocidental.

Nosso guia é o geólogo Terry Engelder. Ele mostra que a rocha, conhecida em português como xisto, é formada por moléculas de gás presas há centenas de milhões de anos. Foi Terry quem descobriu, há seis anos, que a camada de rocha chamada Marcellus contém 1,5 trilhão de metros cúbicos de gás – a segunda maior do mundo.

Essa riqueza começou a ser explorada graças a uma nova tecnologia: a perfuração de milhares de poços que atravessam a rocha  e injetam milhões de litros de água a altas pressões na rocha, abrindo as lâminas. Grãos de areia misturados à água se alojam entre as lâminas, mantendo-as abertas, e assim o gás escapa através do poço até a superfície.

Produtos químicos são diluídos para ajudar no fraturamento do xisto. Segundo os críticos a técnica deveria ser proibida porque causaria a contaminação o solo e lençóis d'água. Terry discorda. "A exploração causou problemas, mas nada que a engenharia não resolva", diz.

Ele se orgulha de ter começado o que se tornou uma nova era na produção de energia nos Estados Unidos e um renascimento para o primeiro estado a explorar essa riqueza em grande escala: a Pensilvânia.

A história de Terry Greenwood está mais para pesadelo. Ele era motorista de caminhão, aposentou-se e comprou uma pequena fazenda de gado, com apenas 20 cabeças. Há quatro anos, uma empresa de exploração de gás, que tem os direitos sobre o subsolo, cavou dois poços e instalou uma tubulação subterrânea até um gasoduto.

A água da fazenda ficou com um gosto horrível. A família passou a comprar garrafões, mas o gado bebeu a água contaminada e muitos bezerros nasceram mortos. Terry perdeu R$ 50 mil. A empresa se recusa a cobrir o prejuízo.

Todo dia uma bomba funciona automaticamente durante duas horas, retirando água de dentro do poço de gás. A água é jogada para um tanque. Parece uma lama preta e tem um cheiro forte de gás. É essa água que contaminou a fazenda do Terry. "Quando a bomba está funcionando não dá para chegar perto por causa do cheiro", conta.

Alguns fazendeiros alegam que cederam os direitos do subsolo das terras sem serem informados das consequências. No caso de David Hadley e da mulher, Linda, os direitos já tinham sido cedidos antes mesmo da compra da área. Um dos poços fica bem em frente à casa da família, que convive diariamente com a extração do gás natural.

Os moradores da área costumavam ir a uma fonte para buscar a água cristalina que brota. Ainda brota água, mas de dois anos para cá, eles notaram que saem umas bolhas e contrataram um laboratório para testar. Descobriram que é gás metano. Quando se acende uma chama, a água pega fogo. É o gás que está saindo do fundo.

O cientista Yuri Gorby, que estuda contaminação da água, defende a suspensão imediata da exploração do gás. Ele diz que o que está acontecendo é uma tragédia.

John Hanger foi secretário do Meio Ambiente da Pensilvânia até 2010 e diz que uma pequena minoria de fazendeiros foi atingida pela contaminação da água. "Não é um fenômeno generalizado, e os benefícios só vão crescer. A nova era está apenas começando. Nas próximas décadas, o gás natural, que é mais limpo, substituirá o carvão e o petróleo. Será bom para o meio ambiente, trará prosperidade para a região, e tornará os Estados Unidos independentes em termos energéticos", afirma.

Pittsburgh já foi a capital do aço, antes que as siderúrgicas se mudassem para a China, o Brasil e outros países. Andou bem decadente, mas está de volta. Renasceu como a capital da energia. A cidade fica bem no centro da segunda maior reserva mundial de gás natural.

Dennis Yablonsky foi secretário de Comércio da Pensilvânia e dirige uma associação de empresários da região. Ele lembra que a exploração do gás natural nos últimos cinco anos levou Pittburgh a ser uma das primeiras cidades americanas a sair da recessão de 2008. "Temos gás natural para atender as necessidades dos Estados Unidos por mais 50 anos", diz.

Alex Perez é um dos empresários locais que prosperaram com a exploração do gás. "O condado de Washington, onde estamos, foi o que mais cresceu em número de empregos em todo o país no ano de 2012", afirma.

Só o futuro dirá se é mesmo possível conciliar a prosperidade e a exploração de novos recursos naturais, com a proteção do meio ambiente e da saúde dos cidadãos.

Fonte: Bom Dia Brasil

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