ONU cria 'IPCC da biodiversidade' para conter devastação no planeta

Bacia amazônica, área de atuação do projeto (Foto: Divulgação/UEA)
Plataforma será composta por cientistas, governos e sociedade civil.
Organismo vai elaborar relatórios sobre impacto nos ecossistemas.

A preservação da biodiversidade do planeta ganhou força nesta semana com a criação do "IPCC da Biodiversidade", uma plataforma intergovernamental que vai quantificar os ecossistemas do planeta e articular junto a governos a implantação de políticas de conservação.

O organismo vai reunir cientistas, representantes dos países-membros das Nações Unidas e representantes de comunidades indígenas e tradicionais.

Após sete anos de discussões, a definição sobre a Plataforma Intergovernamental sobre Serviços de Ecossistemas e da Biodiversidade (IPBES, na sigla em inglês) ocorreu na última segunda-feira (23), depois de votação em plenária realizada na Cidade do Panamá.

A organização terá sede em Bonn, na Alemanha, mesma cidade que sedia a Convenção da ONU para mudança do clima, e ficará sob o guarda-chuva de programas e agências especializadas da ONU, como o Pnuma (Programa da ONU para o Meio Ambiente), Pnud (o programa para o desenvolvimento), Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Cência e Cultura.) e FAO (Organização para Alimentação e Agricultura).

O modelo foi inspirado no Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC na sigla em inglês), responsável por reunir especialistas de todo mundo para elaboração de relatórios sobre o impacto do aquecimento global, decorrente de atividades humanas.

Mais força política
Porém, para Carlos Alfredo Joly, professor da Universidade de Campinas (Unicamp) e membro da secretaria de pesquisa e desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a principal diferença do "IPCC da biodiversidade" será a maior interação da ciência com o poder público.

Isso deve proporcionar uma apresentação de soluções para conter problemas, de possíveis fontes de financiamento, com uma intensa articulação nos governos.

"Em uma reunião que vai acontecer ainda este ano, vamos definir como faremos uma avaliação segura da biodiversidade, de forma homogênea. Isso vai auxiliar na contagem de espécies de animais, vegetação nativa, a distância entre eles e sua conectividade", explica.

A análise vai expor ainda as principais ameaças aos ecossistemas com relatórios divulgados a cada período, que pode variar de cinco a seis anos.

Ao menos 40 cientistas farão parte desta plataforma, além de representantes do Ministério das Relações Exteriores de cada nação envolvida, técnicos, representantes de comunidades indígenas e tradicionais.

Joly, que participou ativamente da discussão sobre o tema, pode ser um dos cientistas brasileiros a integrar o organismo. A escolha, porém, depende da aprovação do governo.

Risco à biodiversidade
De acordo com Joly, a necessidade de quantificar a biodiversidade mundial e agir para preservação é "urgente". Segundo ele, atualmente o planeta tem entre 1 bilhão e 2 bilhões de espécies (aquáticas, terrestres e microorganismos) conhecidas. Entretanto, o ritmo de desaparecimento é rápido e alarmante.

"Nos últimos 2 bilhões de anos, período de formação da vida na Terra, tivemos cinco períodos de extinção em massa. Quatro ocorreram com a vida aquática, a quinta foi o desaparecimento dos dinossauros. Entretanto, com o ritmo atual de perda de espécies, é possível que estejamos entrando num sexto período", explica.

Para ele, se nada for feito para reverter esta situação, o mundo entrará em um processo que "não se conhece as consequências", mas que pode afetar o cotidiano humano.

Rio+20
Com a criação da plataforma da biodiversidade, o tema pode ganhar força nas discussões da Rio+20, conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que vai ocorrer em junho no Rio de Janeiro e definir diretrizes para que o mundo fomente sua economia de maneira que integre toda população, com distribuição justa de renda e sem prejudicar o meio ambiente.

A ausência de pautas ambientais na discussão diplomática, que culminará em um documento assinado por uma centena de chefes de Estado com orientações (e não obrigações), é uma das principais críticas feitas por especialistas e políticos brasileiros,que alegam "falta de atitude" do governo brasileiro quanto ao tema.

"O fato desse organismo ter sido aprovado agora, torna a biodiversidade um tema que vai ter reflexo automático na Rio+20. Isso veio num momento importante e levará a discussão para o lado ambiental", afirma Joly.

Fonte: G1

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