Brasil se une aos EUA para criar combustível limpo para aviação

À esquerda, a presidente da Boeing no Brasil, Donna Hrinak, juntamente com Carlos Brito, da Fapesp, e Mauro Kern, vice-presidente de Engenharia e Tecnologia da Embraer. (Foto: Eduardo Carvalho/Globo Natureza)
Boeing e Embraer querem criar centro de pesquisa voltado ao setor.
Meta é reduzir emissões de gases e criar aviões mais eficientes.

As fabricantes de aeronaves Embraer, do Brasil, e Boeing, dos Estados Unidos, iniciaram oficialmente nesta quarta-feira (25) discussões bilaterais com o objetivo de produzir biocombustíveis para aviação.

A meta é criar, no futuro, um centro de pesquisa no país que será referência mundial.

As duas grandes companhias aeronáuticas, em parceria com a Fundação de Amparo à pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), devem desenvolver um combustível que emita menos gases de efeito estufa, seja renovável e não prejudique o desempenho de aeronaves que já estão em operação ou de novos jatos que serão desenvolvidos -- seja para aviação comercial ou executiva.

As discussões sobre metodologias de pesquisa e quais matérias-primas serão analisadas devem durar nove meses. Um primeiro workshop sobre o assunto acontece até esta quinta-feira (26), em São Paulo, e reúne cientistas e engenheiros.

Eles vão definir o melhor modelo de investigação científica, mas olhando para o que já foi desenvolvido no setor até hoje -- inclusive a indústria da cana-de-açúcar e do etanol. Entretanto, ainda não há uma previsão de quando será iniciada a fabricação do produto voltado à aviação.

Brasil em foco
De acordo com Mauro Kern, vice-presidente de Engenharia e Tecnologia da Embraer, com sede em São José dos Campos (SP), apesar do Brasil ter vantagens na indústria de combustíves renováveis, o principal desafio será a produção em larga escala. A empresa já desenvolve pesquisas com óleos vegetais e cana de açucar no desenvolvimento do bioquerosene.

Segundo ele, o produto renovável deve reduzir em 80% as emissões de gases estufa, se comparado com outros combustíveis fósseis, e vai contribuir para o setor cumprir metas de redução na liberação de gases. A aviação mundial pretende cortar pela metade a emissão de CO2 até 2050, comparado ao índice de 2005.

Para Carlos Brito, diretor científico da Fapesp, mesmo o Brasil sendo referência no uso da cana para a produzir o etanol, e ter uma indústria em torno disso, outras fontes precisam ser analisadas. "Queremos conhecer os candidatos interessantes, mas isso é cercado de muitos requisitos técnicos e de sustentabilidade", explica.

A presidente da Boeing no Brasil, Donna Hrinak, citou que empresas concorrentes, como a Airbus, estão de olho neste setor. "Precisamos ter mais voos com biocombustíveis, para que eles deixem de ser algo extraordinário e passem a ser usuais".

Taxa de carbono na Europa
Um dos temas comentados pelos representantes das companhias foi a cobrança da taxa de carbono pela União Europeia das companhias aéreas.

Desde janeiro, a UE passou a taxar as emissões de CO2 provenientes de aeronaves que sobrevoam os países do bloco, o que causou reações contrárias de governos como os da China e dos Estados Unidos. Eles temem prejuízo ao setor e uma possível redução da carteira de pedidos de novas aeronaves.

Sobre o risco de uma crise comercial, a presidente da Boeing no Brasil explicou que não há temor do mercado, porém, confirmou que já há conversas da empresa com clientes sobre o assunto.

Segundo Kern, da Embraer, a Europa saiu na frente, mas criou uma situação controversa, já que a decisão foi "unilateral e sem diálogo com organismos mundiais de aviação". Mas ele cita que as restrições podem ser uma "oportunidade para que as fabricantes agilizem a produção de aviões novos mais eficientes".

Fonte: G1

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