Alemães protestam pela 96ª vez em dois anos contra obra em estação

Fonte: G1
Manifestação desta segunda-feira (24) em Stuttgart. (Foto: Eduardo Carvalho/Globo Natureza)

Construção pode contaminar água mineral no subsolo, dizem ambientalistas.
Manifestações levaram a plebiscito sobre ampliação de infraestrutura.


Cerca de duas mil pessoas se reuniram nesta segunda-feira (24) em uma manifestação pelas ruas de Stuttgart, no estado de Baden-Württemberg, na Alemanha, contra a ampliação da principal estação ferroviária da cidade, que terá expandida suas linhas e contará com a implantação de passagens subterrâneas. A construção, segundo ambientalistas, poderá contaminar um aquífero de água mineral, considerado o segundo maior da Europa.

Com cartazes e fantasias, idosos e jovens se reuniram pela 96ª vez em um período de dois anos, devidamente agasalhados para enfrentar o frio de 10 graus, contra a polêmica construção.
O projeto ˜Stuttgart 21" é uma proposta dos governos federal, estadual e municipal, juntamente com a Deutsche Bahn, estatal que opera as linhas ferroviárias do país, e está orçado em 4 bilhões de euros. Pretende instalar na cidade de 600 mil habitantes túneis de até 10 km para evitar a parada de trens e interligar a estação ferroviária e o aeroporto. A quantidade de linhas férreas seria expandida de 16 para 24.
Mas a população não concorda com a forma que o projeto foi conduzido pelo governo do estado na última década e teme por problemas estruturais na cidade.
˜Muita gente não quer que um dos símbolos da cidade (a estação) seja modificado. Além disso, somos contra a derrubada das árvores - ninguém nos informou sobre o impacto que a perfuração dos túneis pode causar no lençol freático. Há risco de contaminação na segunda maior reserva de água mineral da Europa (perde apenas para a região de Budapeste, na Hungria", disse Hannes Reckebauch, porta-voz do movimento Oben Bleiben ("Vamos ficar em cima", na tradução do alemão).
Impacto Ambiental
Segundo o Departamento de Turismo de Stuttgart, ao menos 300 árvores centenárias seriam derrubadas para viabilizar o projeto e os atuais trilhos na superfície seriam desativados, abrindo um terreno de 100 hectares, já reservado para a construção de prédios residenciais. Um acampamento de manifestantes de uma organização denominada ˜Protetores do parque" foi montado há um ano para evitar a remoção da área.
De acordo com Reckenbauch, além do impacto ambiental, a população está preocupada com a possibilidade de rombo no orçamento da obra e questiona a real necessidade de se realizar a modificação na infraestrutura do terminal. O questionamento ocorre em meio à crise financeira que atinge grande parte dos países que formam a União Europeia. "Falam que o projeto custa 4 bilhões, mas o preço pode aumentar para até 9 bilhões. Esse dinheiro poderia ser investido na construção de escolas e hospitais. As pessoas acreditam que a nova estação não será tão eficiente como foi prometido˜, explica.
Plebiscito
Devido aos protestos, que em alguns casos contaram com violenta repressão policial, relatada pela imprensa local, o governo de Baden-Würtenberg vai realizar no próximo dia 27 de novembro um plebiscito em todo o estado. Os 11 milhões de habitantes de uma das regiões mais industrializadas da Alemanha deverão responder sim ou não à construção.
Segundo Therezia Bauer, ministra de Ciência, Pesquisa e Arte do estado, se a população disser que não aceita o "Stuttgart 21", o governo vai paralisar o planejamento da obra imediatamente e preparar indenizações às empresas contratadas. Entretanto, se o plebiscito for favorável, haverá controle rígido dos gastos.
"A questão ambiental ambiental é dos problemas o menor. Existe a questão de contaminar a água e o corte das árvores. Mas, na minha opinião, os custos desse projeto são incontroláveis. Se for levado adiante, o orçamento público vai ficar sob pressão por muito tempo. Acredito que é necessário analisar se esta política de mobilidade é a correta e é isto que a população tem questionado˜, disse a ministra, que é do Partido Verde alemão, oposição ao União Democrata Cristã (CDU), que governava de forma ininterrupta desde 1953 o estado, mas perdeu as eleições de março deste ano.

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