Estudo da terra preta pode permitir agricultura familiar sustentável

Fonte: Globo

Engenheiro agrônomo diz como o biocarvão pode fertilizar solos esgotados


O Globo Ecologia deste sábado visitou a Floresta Amazônica para conhecer as florestas antrópicas, caracterizadas pelos solos de terra preta e mulata. Pesquisas revelaram que os índios queimavam matéria orgânica de maneira muito mais inteligente do que atualmente. As queimadas de menor intensidade deram origem às terras pretas, muito ricas em nutrientes. Com base nos estudos realizados nos últimos oito anos, uma das linhas de pesquisa mais importante em andamento é o entendimento do biochar (obtido a partir da transformação da biomassa em carvão) já existente nas terras pretas e como produzir um biochar semelhante ao encontrado nesses solos.

Mais de 75% do solo da Amazônia é predominantemente composto por latosolos e argisolos, que têm baixa fertilidade natural, acidez elevada, grande quantidade de alumínio tóxico, baixo teor de nutrientes responsáveis para a produção de espécies agrícolas. A terra preta é um componente de grande importância, principalmente para a agricultura familiar sustentável. Todos os estudos com terra preta de índio nos últimos anos focam em como utilizar esses conhecimentos olhando o aspecto físico, químico e biológico para recuperar áreas degradadas, desenvolver agriculturas familiares e também para fazer estoque de carbono.

Segundo Newton Falcão, Engenheiro Agrônomo, especialista em solos e nutrição de plantas, essas pesquisas permitirão uma agricultura familiar sustentável. “A ideia é saber como esse biochar atuaria para recuperar os solos degradados, o estabelecimento de uma agricultura familiar mais sustentável e produtiva e a mitigação da emissão dos gases de efeito estufa por meio do estoque de carbono no solo”, explica.
As pesquisas sobre este tipo de terra ajudaram na criação do biocarvão, usado para fertilizar solos esgotados. Esse é um tipo de carvão feito, em laboratório, a partir da queima de resíduos orgânicos, seguindo a velha prática dos índios, adaptada à tecnologia atual. Mas ainda não foi possível reproduzir na íntegra a fertilidade da terra preta de índio.
Biochar
Biochar ou biocarvão é produzido por meio da carbonização de resíduos orgânicos a baixas temperaturas e presença controlada de oxigênio. Devido apresentar estrutura aromática formada por ácidos carboxílicos e fenólicos, o biochar é químico e biologicamente mais estável que a matéria orgânica utilizada para sua fabricação.
O processo de biocarbonização tem sido proposto como uma tecnologia com alto potencial para o manejo de resíduos orgânicos, melhoria da qualidade física, química e biológica dos solos degradados, produção de energia para pequena propriedade rural e redução das emissões de gases de efeito estufa, com aumento dos estoques de carbonos no solo e melhoria da produção da agricultura familiar.
O carvão pirogênico (biocarvão ou biochar) poderá ser utilizado na recuperação das áreas degradadas incorporando estas ao sistema produtivo.

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