MS busca conciliar desenvolvimento e preservação do meio ambiente
Fonte: G1
Na série sobre o Centro-Oeste, a próxima parada é em Mato Grosso do Sul,
um estado rico em beleza, tendências e oportunidades.
Em Mato Grosso do Sul, os “estrangeiros” vêm de mais perto. São brasileiros que chegam para trabalhar e que chegam para investir. No meio do caminho, todos encontram um obstáculo: a infraestrutura inexistente, mas eles aprendem rapidinho como se diz “saudade” com sotaque sertanejo. É a segunda escala da viagem dos repórteres Lília Teles e Luiz Paulo Mesquita e do técnico Rafael Martinez à nova fronteira do Brasil.
A rodovia não tem acostamento, com um trânsito que põe em risco os milhões de motoristas que trafegam nela o ano inteiro. O movimento de carretas é intenso pela BR-163. Por essa estrada que quase toda a riqueza produzida nesta parte do Brasil é escoada, há perigo de dia. “Está feio”, diz um motorista.
É ainda pior à noite. Os caminhoneiros se agrupam em algum canto da estrada para evitar tragédias comuns na estrada. “O povo se junta, porque não dá mais pra parar sozinho. É muito assalto”, reclama o caminhoneiro Genival Brito. “De vez em quando um vira a cabine para escutar o barulho de pneu, porque o roubo está demais. Estão roubando até carregado”, relata o caminhoneiro Anderson Azevedo.
Foi na estrada que a equipe de reportagem do Bom Dia Brasil pegou para viajar de Mato Grosso ao estado vizinho, Mato Grosso do Sul. Na viagem pelo Centro-Oeste, a equipe foi surpreendida a todo o momento. Na BR-163, em Mato Grosso do Sul, havia uma comitiva transportando uma boiada em plena rodovia federal: uma boiada passando pela rodovia.
“Sim, com frequência, porque essa região é uma região de pecuária. A Polícia Federal, em razão da segurança do transito, termina vindo fazer o trabalho para exatamente evitar acidentes”, disse o policial rodoviário José Evangelista de Souza.
A equipe rodou mais alguns quilômetros e viu um flagra na beira da estrada: um homem entrando com uma serra.
Homem: Nós estamos espalhando a área pro acampamento.
Repórter: Assentamento?
Homem: É.
Repórter: Vocês cortam com serra elétrica?
Homem: É.
Repórter: A motosserra está aqui. Essa motosserra foi usada em uma árvore. Que madeira é essa?
Homem: Angico.
Repórter: Angico? Mas angico não faz lenha.
Homem: Melhor lenha que tem.
Repórter: Assentamento?
Homem: É.
Repórter: Vocês cortam com serra elétrica?
Homem: É.
Repórter: A motosserra está aqui. Essa motosserra foi usada em uma árvore. Que madeira é essa?
Homem: Angico.
Repórter: Angico? Mas angico não faz lenha.
Homem: Melhor lenha que tem.
Outra ameaça preocupa os ambientalistas: a construção de pequenas centrais hidrelétricas para gerar energia. Uma delas, já em funcionamento, mudou o curso e o volume de água do Rio Correntes. Muitos dos rios que cortam o estado deságuam no Pantanal.
“Isso pode realmente trazer comprometimentos mais do que no volume, no pulso de inundação, na frequência com que o Pantanal leva para encher e leva para esvaziar. Isso é o que condiciona toda a beleza e toda a biodiversidade da região”, explica Roberto Gonçalves, representante do instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul.
Os defensores do meio ambiente também se preocupam com o estrago que as usinas de cana-de-açúcar podem provocar. Com as novas áreas de produção, o objetivo é saltar do quinto para o segundo lugar no ranking dos produtores nacionais de açúcar e álcool.
Será que é possível conciliar desenvolvimento e preservação do meio ambiente? Este é um exemplo dos grandes desafios de Mato Grosso do Sul. Mas uma usina de açúcar, uma das mais antigas do estado, mostra que com responsabilidade tudo fica menos difícil do que parece. Com quase dois mil funcionários, a usina tem o orgulho de não registrar nenhum acidente ambiental há, pelo menos, 15 anos.
Uma das medidas é usar a vinhaça, um subproduto da cana, como adubo orgânico na lavoura que sustenta a própria usina. “Aumenta a produtividade e diminui o custo com adubação química”, destaca Ivandes Scarpeto, superintendente da usina.
A outra é usar o bagaço da como gerador de energia. “Era considerado subproduto e hoje não. Nossa indústria tem três produtos: o etanol, o açúcar e a bioeletricidade”, acrescenta Roberto Hollanda, representante da Biosul.
A multiplicação de usinas de cana-de-açúcar também se reflete nas cidades do entorno, que tem índice de desemprego próximo do zero. A cidade de Sonora é uma delas. A vila que cresceu perto da usina é hoje um município emancipado, mas não se esquece do passado. Uma das ruas se chama Saudade.
O eletricista Michael da Silva só tinha 17 anos quando deixou a família no Nordeste. Do setor de faxina ao empacotamento de açúcar na usina, foram oito anos. Hoje, aos 25, estuda Engenharia de Produção e já comprou a própria casa. “Paguei à vista e já tenho projeto para aumentá-la mais futuramente”, conta.
A microempresária Carmem Batista cortou cana dos 9 aos 24 anos. A fome e o sofrimento ficaram para trás. Hoje é dona de uma loja comprada com sacrifício. O horizonte se estendeu. “Achei a luz que eu queria lá na frente”, afirma.
O nome da Rua da Saudade também pode ser uma homenagem a todas as pessoas que continuam chegando em busca de emprego. Os trabalhadores limpam a terra para a cana nascer. Eles vieram de longe, pelo menos 95% do Nordeste. “É muito suor, mas vale a pena”, comenta um senhor.
Nesta terra de riquezas e possibilidades, o orgulho também tem acordes que conquistaram o Brasil, do ídolo nacional Luan Santana às duplas que fazem sucesso em todo o país. Por que tem tanta dupla no Mato Grosso do Sul?
“É o berço da musica sertaneja. Hoje o sertanejo dominou tudo”, disse o veterinário Augusto Catarante. “Regiões que nunca tocou sertaneja hoje, é prioritário. Todo mundo escuta sertanejo no Nordeste ou no Rio de Janeiro. É muito bacana”, destaca o cantor Mariano.
Em muitas casas noturnas da capital, Campo Grande, jovens trilham o mesmo caminho, das roupas às danças. Mato Grosso do Sul entrou de vez nas paradas de sucesso.
“Camisa, tem cinto, bota e calça apertadinha”, mostra um jovem. Bota, chapéu, camisa xadrez, shortinho e saia Tem que ser no ritmo da música”, comenta uma jovem. “Tem muita gente bonita, bebida gelada, é isso que os jovens vão atrás: ver gente, conhecer gente e ouvir música também”, diz outra.
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