Quanto custa certificar?

Fonte: Planeta Sustentável

Essa é a pergunta que todo empreendedor faz quando o assunto são os selos de greenbuilding para edifícios. Mas, afinal, que conta é essa e quem paga por ela?


Já faz algum tempo que a economia global acordou para um fato importante: buscar sustentabilidade é também zelar pelos negócios. Em 2006, o economista britânico Nicholas Stern parou o mundo ao apontar as emissões de CO2 como a principal causa do aquecimento global e sugerir que, se nada for feito, o planeta sofrerá catástrofes ambientais da ordem de 20% do PIB mundial até 2050 (algo hoje em torno de US$ 10 trilhões). Os números são impressionantes - ainda mais no caso da construção civil. "O setor consome 40% de todos os recursos naturais do planeta", lembra Luiz Henrique Ferreira, da Inovatech Engenharia, de São Paulo. O Conselho de Green Building dos Estados Unidos (USGBC) credita ao segmento absorção de 40% da energia produzida no mundo e 30% do uso da água potável do globo. 

A fama de vilão, porém, pode mudar se os agentes souberem transformar urgência em oportunidade. É nisso que apostam os pioneiros do greenbuilding no Brasil. "O mercado está exigindo prédios mais eficientes, que se mantenham atuais por mais tempo. Triple A [prédio corporativo de alto padrão] com certificação, por exemplo, é obrigatório", diz Luis Fernando Bueno, diretor de operações para terceiros da Gafisa. Fabiana Perez, gerente da JHSF, resume: "A sustentabilidade vai pelo caminho da ISO 9000. Quem não tiver a certificação ficará de fora".

SIM, CONSTRUIR PARA TER SELO VERDE CUSTA UM POUCO MAIS.

Esse extra depende dos hábitos de trabalho de cada empreendedor. "Um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)mostrou que o desperdício numa obra atinge de 11 a 15% do seu custo. Já os diferenciais de sustentabilidade, que imprimem qualidade ao empreendimento, representam um desembolso de 5 a 10% do valor total", afirma Nelson Kawakami, diretor-executivo do Green Building Council Brasil, o GBC. Para Luiz Henrique Ferreira, o valor desse investimento depende da linha de base da construtora. "Se ela mantém bons contratos trabalhistas, compra materiais com nota fiscal e faz a gestão dos resíduos, não vai gastar muito mais para ser sustentável", fala. E segue: "quanto antes se pensar no assunto, menor será o custo, pois muitos itens poderão ser incorporados na arquitetura, e não na forma de equipamentos de ponta para remediar falhas de projeto".

• 40% de todos os recursos naturais disponíveis no planeta são consumidos pelo setor da construção civil.

• Para ter um produto sustentável, 48% dos consumidores brasileiros aceitariam pagar até 10% mais.

• 5% do custo total da obra é o investimento médio que as construtoras estão fazendo nos prédios verdes.

E SE O QUE IMPORTA SÃO OS BENEFÍCIOS PARA O EMPREENDEDOR...

Está por um fio o discurso de que não vale a pena investir um pouco mais porque quem se beneficia são os usuários, e não quem constrói. Numa pesquisa realizada este ano pela consultoria americana Penn, Shoen & Berland Associates (PSB), 73% dos brasileiros garantem que gastariam mais consumindo produtos ecologicamente corretos. Outro levantamento feito aqui, pelo grupo francês Havas, mostrou que 48% estariam dispostos a pagar até 10% mais por um produto sustentável. "Isso já está acontecendo com os clientes corporate, que só querem saber de prédios eficientes", conta Marcelo Takaoka, presidente do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS). Com compradores mais exigentes, já é possível elevar um pouco o preço de venda, apostando na demanda de greenbuilding e na tendência de queda do valor do condomínio causada pela redução no consumo de água e energia na operação do imóvel. "Sem falar que o construtor ganha em velocidade de venda e gasta menos com estandes, vendedores e material de publicidade, o que reflete na taxa de retorno do empreendedor e na imagem da empresa", diz Paola Figueiredo, vice-presidente executiva do Grupo SustentaX.

QUANDO O INVESTIDOR É O FUTURO USUÁRIO.

Os especialistas são categóricos: ao longo de sua vida útil, 80% do custo total de um edifício equivale à etapa de operação e apenas 20% à de construção. Isso significa que quem investe um pouco mais para ampliar a ecoeficiência do empreendimento do qual será também usuário obtém retorno rápido por meio da redução dos gastos operacionais, principalmente com água e energia. "A Valia, fundo de pensão da Vale, só comprou metade de um prédio do Cidade Jardim Corporate Center [em obras em São Paulo] porque ele tem certificação AQUA, o que deverá manter o prédio valorizado e gastando menos com manutenção", conta Manuel Martins, coordenador do Processo AQUA, da Fundação Vanzolini.

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