Michael Braungart diz que resíduos são falha do design
Fonte: Jeanne Callegari - Revista Vida Simples
Em seu livro, você fala da ideia de eliminar o conceito de "resíduos". Como é possível fazer isso, por meio do design? Essa seria a forma normal. Ter resíduos é falha de design, é uma sobra que não deveria existir. Quando as pessoas compram um produto, o que elas querem é a experiência ou serviço que aquele produto proporciona; mas hoje, quando elas compram, elas levam também as sobras, material para descartar depois, como a carcaça de uma televisão ou embalagens. Não é justo fazer as pessoas terem sobras quando tudo que elas querem é um serviço. Para mudar isso, é preciso não ficar pensando em diminuir o gasto de materiais, mas repensar completamente o design de um produto, de forma que ele não gere nenhum resíduo. Precisamos perguntar o que as pessoas realmente querem de um produto. Perguntar: qual o propósito disso que estou criando? Aí podemos usar os melhores materiais e fazer projetos melhores.
Vocês falam em design "berço a berço". Como isso funciona na prática, e em que isso é diferente do conceito "berço a túmulo" que existe hoje?
Os produtos hoje são feitos para ser jogados fora. O planeta é um cemitério de coisas. Reciclar é apenas uma forma de mandar as coisas um pouco mais tarde para o cemitério. Nós temos sistemas biológicos de design - como uma árvore, por exemplo - e sistemas técnicos. Quando fazemos uma TV, temos que garantir que os sistemas técnicos não vão para os sistemas biológicos, porque é ruim para eles. Quando as pessoas fazem janelas, por exemplo, usam químicos fortes na tinta que tornam muito difícil reciclar aquele material. Elas fazem assim porque é mais barato. A maioria dos produtos hoje não foi feita para ser reciclada. E mesmo isso não seria suficiente. O ideal é o conceito de upcycle: criar produtos que deixem o planeta mais limpo que antes, que não sejam neutros em carbono, mas positivos em seu impacto na natureza.
O que significa fazer um design baseado na abundância? Se você olha para uma cerejeira, ela não se reprime: não há redução, apenas abundância. Não estamos falando de fazer menos mal, de reduzir impacto. Isso nós já temos bastante. Trata-se de fazer o bem. Eficiência é diferente de eficácia. Uma cerejeira tem milhares de flores; isso não é eficiente. Mas é extremamente eficaz. Outro exemplo é o do namorado que chega atrasado para um encontro, mas que, quando chega, traz um enorme buquê de flores: as flores não são eficientes, mas são eficazes para aplacar a ira da namorada. Falamos de produtos que não precisam ter seu consumo reduzido, pois quanto mais deles você tiver, melhor. Um prédio que gere energia para a cidade, que descarte água mais limpa do que antes, que deixe o solo mais rico e produtivo, que deixe o ar mais limpo, por exemplo. Um prédio que seja como uma árvore.
O alemão Michael Braungart propõe uma nova forma para lidarmos com o design: sem desperdícios, usando novos materiais e aproveitando a abundância dos recursos
Design sem desperdício de material, sem sobras, não-prejudicial para os seres humanos e para as outras espécies. Essa é a ambição do químico alemão Michael Braungart, que, junto com o arquiteto William McDonough, escreveu o livro Cradle to Cradle - Rethinking the Way We Make Things ("Do berço ao berço - Repensando a maneira como fazemos as coisas", sem tradução em português). Para a dupla, não devemos tentar fazer design com menos impacto na natureza. Ao contrário: devemos celebrar a abundância, por meio de uma forma completamente diferente de pensar o design, usando novos materiais e descartando a ideia de "jogar fora". Braungart esteve no Brasil para a conferência TEDxAmazônia em novembro. Confira nossa entrevista com ele.
Em seu livro, você fala da ideia de eliminar o conceito de "resíduos". Como é possível fazer isso, por meio do design? Essa seria a forma normal. Ter resíduos é falha de design, é uma sobra que não deveria existir. Quando as pessoas compram um produto, o que elas querem é a experiência ou serviço que aquele produto proporciona; mas hoje, quando elas compram, elas levam também as sobras, material para descartar depois, como a carcaça de uma televisão ou embalagens. Não é justo fazer as pessoas terem sobras quando tudo que elas querem é um serviço. Para mudar isso, é preciso não ficar pensando em diminuir o gasto de materiais, mas repensar completamente o design de um produto, de forma que ele não gere nenhum resíduo. Precisamos perguntar o que as pessoas realmente querem de um produto. Perguntar: qual o propósito disso que estou criando? Aí podemos usar os melhores materiais e fazer projetos melhores.
Vocês falam em design "berço a berço". Como isso funciona na prática, e em que isso é diferente do conceito "berço a túmulo" que existe hoje?
Os produtos hoje são feitos para ser jogados fora. O planeta é um cemitério de coisas. Reciclar é apenas uma forma de mandar as coisas um pouco mais tarde para o cemitério. Nós temos sistemas biológicos de design - como uma árvore, por exemplo - e sistemas técnicos. Quando fazemos uma TV, temos que garantir que os sistemas técnicos não vão para os sistemas biológicos, porque é ruim para eles. Quando as pessoas fazem janelas, por exemplo, usam químicos fortes na tinta que tornam muito difícil reciclar aquele material. Elas fazem assim porque é mais barato. A maioria dos produtos hoje não foi feita para ser reciclada. E mesmo isso não seria suficiente. O ideal é o conceito de upcycle: criar produtos que deixem o planeta mais limpo que antes, que não sejam neutros em carbono, mas positivos em seu impacto na natureza.
O que significa fazer um design baseado na abundância? Se você olha para uma cerejeira, ela não se reprime: não há redução, apenas abundância. Não estamos falando de fazer menos mal, de reduzir impacto. Isso nós já temos bastante. Trata-se de fazer o bem. Eficiência é diferente de eficácia. Uma cerejeira tem milhares de flores; isso não é eficiente. Mas é extremamente eficaz. Outro exemplo é o do namorado que chega atrasado para um encontro, mas que, quando chega, traz um enorme buquê de flores: as flores não são eficientes, mas são eficazes para aplacar a ira da namorada. Falamos de produtos que não precisam ter seu consumo reduzido, pois quanto mais deles você tiver, melhor. Um prédio que gere energia para a cidade, que descarte água mais limpa do que antes, que deixe o solo mais rico e produtivo, que deixe o ar mais limpo, por exemplo. Um prédio que seja como uma árvore.
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