A ironia do SUV com adesivo “Save the planet”
Alguém me explica como uma pessoa tem a pachorra de colocar um adesivo “Save the planet” em uma SUV? Ou sua variante “adventure cool”, que é usar uma capa para o estepe traseiro com os mesmos dizeres sobre uma imagem de uma jaguatirica ou um papagaio.
Em grandes aglomerados urbanos, como São Paulo, a poluição gerada pelos automóveis é maior do que aquela cuspida por indústrias. E essa categoria de carro (veículo esportivo utilitário, em inglês), beberrona de combustível, e que deveria estar sumindo por questões socioambientais, vende que é uma beleza nas lojas daqui.
À medida em que cresce nossa economia, aumenta o desejo da classe média alta de copiar esse modelo (em declínio) do Grande Irmão do Norte, de veículos grandes e potentes. Talvez para mostrar a todo mundo “cheguei lá”, talvez para compensar o tamanho do vazio que espera aqueles que atingem o topo do pódio da sociedade enquanto o restante se segura para não rolar morro abaixo. Será que não dava para usar uma fitinha branca na lapela mostrando a classe social? Seria algo bem bizarro, meio Admirável Mundo Novo, mas ainda assim menos danoso aos demais seres que habitam a pólis do que baforadas de fumaça.
“Ah, mas eu abasteço com biodiesel! Sou um guerreiro da nova consciência.” A despeito do fato da mistura oriunda de matriz vegetal/animal (é isso aí, a gordura animal – banha de boi, por exemplo – só perde para a soja no ranking das matérias-primas mais usadas na produção de biodiesel no Brasil) representar apenas 5% da sua composição, sua cadeia produtiva ainda conta com uma série de impactos sociais, ambientais e trabalhistas mal resolvidos que impedem de chamá-lo de combustível limpo. No que pese os esforços da indústria e do governo de propagandear isso lá fora, pelo comércio, e aqui dentro, para aplacar corações e mentes.
O melhor de tudo é que tenho certeza que muitos dos que andam de SUV com um adesivo desses dão bronca na empregada porque esta jogou a latinha de alumínio na cesta de lixo orgânico (mas ligam os 1.536 aparelhos de ar condicionado de casa ao mesmo tempo), brigam com a faxineira por lavar a calçada com mangueira (mas não dispensam o banho de beleza na banheira com bolhas duas vezes por semana), compram móveis de madeira certificada da Indonésia (mas não se perguntam de onde veio a madeira extraída ilegalmente da Amazônia utilizada na construção de seu apartamento de frente para o parque).
Não, não. Não estou pedindo coerência. Afinal, somos humanos e errados por natureza. Mas é estranho, feito o Batmóvel com um adesivo do Coringa.
À medida em que cresce nossa economia, aumenta o desejo da classe média alta de copiar esse modelo (em declínio) do Grande Irmão do Norte, de veículos grandes e potentes. Talvez para mostrar a todo mundo “cheguei lá”, talvez para compensar o tamanho do vazio que espera aqueles que atingem o topo do pódio da sociedade enquanto o restante se segura para não rolar morro abaixo. Será que não dava para usar uma fitinha branca na lapela mostrando a classe social? Seria algo bem bizarro, meio Admirável Mundo Novo, mas ainda assim menos danoso aos demais seres que habitam a pólis do que baforadas de fumaça.
“Ah, mas eu abasteço com biodiesel! Sou um guerreiro da nova consciência.” A despeito do fato da mistura oriunda de matriz vegetal/animal (é isso aí, a gordura animal – banha de boi, por exemplo – só perde para a soja no ranking das matérias-primas mais usadas na produção de biodiesel no Brasil) representar apenas 5% da sua composição, sua cadeia produtiva ainda conta com uma série de impactos sociais, ambientais e trabalhistas mal resolvidos que impedem de chamá-lo de combustível limpo. No que pese os esforços da indústria e do governo de propagandear isso lá fora, pelo comércio, e aqui dentro, para aplacar corações e mentes.
O melhor de tudo é que tenho certeza que muitos dos que andam de SUV com um adesivo desses dão bronca na empregada porque esta jogou a latinha de alumínio na cesta de lixo orgânico (mas ligam os 1.536 aparelhos de ar condicionado de casa ao mesmo tempo), brigam com a faxineira por lavar a calçada com mangueira (mas não dispensam o banho de beleza na banheira com bolhas duas vezes por semana), compram móveis de madeira certificada da Indonésia (mas não se perguntam de onde veio a madeira extraída ilegalmente da Amazônia utilizada na construção de seu apartamento de frente para o parque).
Não, não. Não estou pedindo coerência. Afinal, somos humanos e errados por natureza. Mas é estranho, feito o Batmóvel com um adesivo do Coringa.
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