Substância tóxica, ftalato é encontrado em artigos de uso cotidiano

Técnico colhe amostra de escova de dentes para medir quantidade de ftalato, que dá flexibilidade a plásticos


Imagine uma criança sentada na sala de aula, olhando a chuva pela janela. Ela pega o lápis e morde distraidamente a borracha. Substâncias químicas, classificadas na Europa e nos Estados Unidos como tóxicas, se dissolvem na saliva e entram em seu corpo.


Este cenário não é tão raro como se pensa. Um estudo publicado na semana passada, por um consórcio formado por 140 instituições ambientalistas, mostra que há risco de química tóxica em itens de plástico que são de uso cotidiano e estão à venda na Europa --de sapatos a borrachas, de estojos de lápis a brinquedos sexuais.

O estudo se baseou em um grupo de substâncias conhecidas como ftalato, seis das quais já foram banidas em brinquedos pela União Europeia desde 1999, pelo receio de prejudicar o desenvolvimento das crianças, incluindo o sexual. Mas o EEB (Birô Europeu do Meio Ambiente) descobriu que o ftalato também está presente em artigos que são rotineiramente manipulados pelas crianças e encontrados em hipermercados como Carrefour e Tesco.

Os fabricantes desses produtos não estão, entretanto, burlando a lei. A regulamentação não abrange objetos como estojos de lápis e borrachas.

"Todos os cidadãos precisam receber informaçõpes sobre as propriedades químicas contidas nos produtos que compram", diz Christian Schaible, da EEB.

A rede Carrefour disse à Reuters que, dentro 45 dias, vai adequar as informações do produto sobre seus riscos químicos. Já a Tesco comentou que evita artigos de vestuário e calçados com essas substâncias.

Ftalatos são usados para dar mais flexibilidade aos plásticos. Há cerca de 25 deles, espalhados no ar, na pintura da parede, no chão da cozinha e do banheiro, na cortina do box do chuveiro, em cabos elétricos. No carro, eles estão presentes na cobertura do chassi e nos plásticos das portas. Enfim, estão no nosso corpo.

A indústria química produz perto de 6 milhões de toneladas de ftalatos a cada ano. Alguns cientistas e governos começam a suspeitar que a substância pode estar conectada a uma queda do nível de fertilidade masculina.

Em países desenvolvidos, estudos mostram que a quantidade de espermas caiu cerca de 50% nos últimos 50 anos, e casos de desenvolvimento sexual masculino, ainda no interior do útero, também são conhecidos.

Em pesquisas com ratos, a produção de testosterona praticamente foi interrompido, o que sugere que efeitos semelhantes poderiam ocorrer em humanos.(fonte: Folha.com)

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