DESASTRES ATUAIS, VELHAS DISCUSSÕES
Sem dúvida os seres humanos temos um desafio crescente quando falamos do assunto Ecologia. A grande questão, desde há muito, deixou de ser se temos ou não sistemas de abatimento de poluição ou qual a eficiência mensal dos mesmos. A grande questão que se discute hoje é: “Como administrar recursos naturais limitados, se a cultura do "ter" é estimulada a todo instante e cada vez mais é relacionada ao sucesso?”. O consumismo (o "ter") por um lado estimula a atividade industrial, provoca empregos, melhora até balanças comerciais. Por outro lado o consumismo provoca proporcionalmente o aumento da poluição uma vez que os sistemas de abatimento de poluição não são nem 100 % eficientes e nem 100 % eficazes.
Percebam que esta discussão tem algumas décadas, iniciadas no século dezenove, ainda no campo exclusivamente econômico. O fato é que temos hoje basicamente três correntes de pensamento, a saber: os malthusianos, os cornucopianos e os ecodesenvolvimentistas.
O pensamento malthusiano pode ser resumido na expressão “o fim virá” , considerando que o planeta encontra-se superpovoado, sobrecarregado de poluentes que alteram biociclos e provocam e/ou potencializam efeitos diversos, estaríamos condenados ao desastre, ao caos.
No outro extremo, os cornucopianos confiam na capacidade do intelecto humano em desenvolver novas tecnologias que permitiriam uma sobre-existência humana baseada na substituição do capital natural por uma espécie de capital tecnologicamente substantificado. Ou seja; o pensamento cornucopiano pode ser resumido na expressão “vamos dar um jeito”.
Numa terceira via estão os ecodesenvolvimentistas, que ocupariam o “centro” nessa discussão ecológica e econômica. Essa corrente, talvez por seu caráter menos pragmático, avançou e alimenta discussões, inúmeras conferências, relatórios, tratados e protocolos. Na prática, o pensamento da corrente ecodesenvolvimentista pode ser resumido na expressão “vamos tentar dar um jeito”.
Prevalecendo a teoria do ecodesenvolvimentismo, foram criados muitos instrumentos que tentam compatibilizar o crescimento, o desenvolvimento e a conservação do meio ambiente. Entre os principais instrumentos podemos citar : leis ambientais, sistemas de gestão ambiental, sistemas de certificação ambiental, sistemas de licenciamento ambiental, sistemas de taxas e, recentemente os mercados de licenças de poluição, notadamente o do carbono.
Sem dúvida que todas essas idéias e ações são recheadas de boas intenções e melhoraram muitos aspectos sociais, econômicos e ambientais, porém podemos dizer com segurança que a velocidade da degradação econômica, social e ambiental, tem, em muito, superado a chamada sustentabilidade. Basta lembrarmos por exemplo do aumento exponencial do fosso entre ricos e pobres, das mais de um bilhão de pessoas no mundo que vivem em miséria absoluta, das mais de um bilhão e meio de pessoas no mundo que não têm acesso a qualquer serviço de saúde ou à água potável ou ao saneamento básico. Os seres humanos não são capazes de manifestar permanente compaixão por outros seres de nossa própria espécie. O que podemos esperar quando tentamos cuidar de outras espécies, sem antes haver uma genuína transformação em nós mesmos?
O PRINCÍPIO DE NINRODE
A verdade é que o princípio de Ninrode nunca teve sucesso real e permanente. Continuamos a procurar a solução no lugar errado. Ao invés de lapidar as pedras e assenta-las, estamos a construir tijolos, pulverizar as pedras e usa-las como argamassa no assentamento dos tijolos – obra artificial humana. As questões sócio-ambientais não podem ser resolvidas de forma exógena, crendo que o problema está do lado de fora do homem.
Vale lembrar que a despeito de todas as discussões, propostas, aplicações práticas de instrumentos regulatórios e econômicos, temos um pH de chuvas cada vez mais baixo, as águas não-poluídas são cada vez mais escassas, as bacias aéreas cada vez estão mais poluídas, os solos cada vez mais degradados, as florestas cada vez menos densas e diversas, enfim: não estamos conseguindo resolver o que pretendemos. A caravana continua passando, mantendo os ricos cada vez mais ricos e egoístas, enquanto os pobres, cada vez mais pobres e aspirando se tornarem ricos e egoístas, algum dia, para quem sabe, exercerem um perverso mimetismo.
O que se aplica aos ricos de hoje, também se aplicará, mutatis mutantis, aos emergentes de hoje. O modelo ecodesenvolvimentista não funciona sozinho; e erra por acreditar que poderemos vencer aplicando conceitos exógenos. É urgente um novo modelo. Algo que seja endógeno: algo que trabalhe o nosso interior prioritariamente. Trata-se de uma renúncia coletiva da humanidade à doutrina egocêntrica.
“O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento.” (Bíblia, Livro de Oséias, capítulo 4, versículo 6 – parte “a”).
Por Marcus Vinícius, MSc. (Blog dos Abençoados)
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