Quando todos são responsáveis

Gestão deficitária do lixo nas cidades, falta de políticas públicas e de educação ambiental agravam as consequências de fenômenos climáticos como o que levou à perda de vidas fluminenses na última semana. Solução está ao alcance de todos

POR LEILA SOUZA LIMA
Rio - O infortúnio das dezenas de famílias desfeitas na última semana, após as chuvas que atingiram o Estado do Rio, deve-se a fatores para além de instabilidade climática e do traço geográfico da cidade. A ocupação desordenada de encostas e regiões de risco — apontada por autoridades como razão para o caos que roubou vidas — cresceu sem freios nos últimos anos, por falta de efetiva política pública para contê-la. Além disso, há um lado da degradação ambiental que agrava consideravelmente as consequências do encharcamento do solo e das enchentes: o lixo.
Lixões não desativados são capítulo nebuloso dessa novela, que se repete ano após ano durante ou após os verões. Irregulares, mas não invisíveis ao poder público, estão cercados de comunidades pobres. E ameaçadas. Rolamento de encostas não é o único risco. Convivência com resíduos tóxicos e vetores de doenças são catástrofes diárias que atingem a saúde pública.
Mas a população também deve se atribuir responsabilidade. O Rio é uma das cidades mais sujas das Américas. Não há nada que impeça esse quadro de mudar. Trata-se da escolha de seus moradores. Em muitos locais, rejeitos são descartados ao tempo, antes que a coleta pública impeça que caiam nos bueiros e nas galerias fluviais. O resultado é demora maior no escoamento das chuvas quando fenômenos climáticos intensificam o volume de águas precipitadas.
“Mesmo com galerias e sistema de esgotamento novos e limpos, haveria cheias na cidade. Isso independe da limpeza. Em situação como a que ocorreu, chuva em grande intensidade, o transbordamento é inevitável. Mas o lixo público é um problema. Obstrui galerias e prejudica o escoamento”, explica Gustavo Puppi, assessor-chefe da Diretoria de Serviço Sul da Comlurb.
Basta um passeio pela cidade, para ver que o lixo está espalhado por toda parte, independentemente do nível socioeconômico da região. Leitor da editoria Vida e Meio Ambiente flagrou sofá boiando no Rio Maracanã, que corta bairros da Zona Norte. Papéis, plásticos, ripas de madeira e compensado estão entre os detritos mais encontrados em vias públicas.
“Do total de lixo arrecadado todos os dias pela Comlurb, 40% é público”, afirma Gustavo Puppi. Ele explica que a coleta domiciliar e comercial não é problema. O grande obstáculo é o que está espalhado pelas ruas. Mas mesmo o lixo ensacado poderia ter fim mais feliz para a população.
Campanhas de limpeza urbana e educação ambiental na escola são ações importantes ao enfrentar o problema. A coleta seletiva, porém, seria o grande avanço para reduzir lixões e despoluir. E não custa muito, já que a prefeitura recolhe onde o sistema é adotado.
ONG retira lixo reciclável em qualquer parte do Rio
O lixo caseiro que vai para a caçamba da coleta pública sem seleção, após separação adequada, pode se transformar em matéria-prima e gerar trabalho e renda para muitas famílias. Há sete anos, a atriz Isabel Fillardis e seu marido, Julio Cesar Santos, fundaram a ONG ‘Doe seu Lixo, que conquistou parceiros de peso, como Coca-Cola Brasil e Banco Itaú, e ganhou status de programa de qualificação. 

Empresas ou pessoas que quiserem descartar qualquer tipo de lixo reciclável podem participar desse mutirão sem nada desembolsar. Basta ligar (3286-9656/ 3287-3135) ou enviar e-mail: atendimento@doeseulixo.org.br
Por meio de um sistema on-line, o doador pode acompanhar todo o passo a passo da transformação do lixo em remuneração para os ex-catadores e hoje agentes. O ideal, porém, é juntar lixo suficiente para encher um saco de 50 litros. Qualquer um que mora no Rio pode se cadastrar. Não há nada como ver o próprio lixo ganhar valor.

Fonte: http://odia.terra.com.br/portal/cienciaesaude/vidaemeioambiente/html/2010/4/quando_todos_sao_responsaveis_74563.html

Comentários

  1. Excelente Edward.
    O lixo, já há muito tempo deveria estar sendo melhor gerenciado, incluindo aí a educação ambiental.
    Parabéns pela matéria.
    Marcus Vinicius.

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