Grupo propõe 14 passos para reduzir o consumo excessivo

Quando apelos racionais são insuficientes, ambientalistas recorrem até à neurociência para obter resultados

Por David Biello

A eficiência energética parece ter um sentido econômico racional – menos energia utilizada, mais dinheiro poupado. No entanto, no mundo concreto é realmente a concorrência entre os vizinhos, em vez de redução de custos, que pode levar as pessoas a desligarem seus termostatos, instalarem o isolamentos térmicos ou simplesmente desligarem as luzes quando saem de um cômodo. Essa é a lição de uma série de esforços propostos pelo grupo OPOWERs.

Agora um novo estudo colaborativo do Natural Resources Defense Council (NRDC) e o Garrison Institute Climate, Mind and Behavior Project revela que ações simples, como pegar um vôo a menos por ano e desperdiçar menos alimentos, também podem ser adotadas. O grupo ambiental estima que, se todos os americanos adotassem 14 medidas durante a próxima década, o país evitaria 1 bilhão de toneladas métricas de emissões de gases de efeito estufa, ou o equivalente a toda a emissão anual de gases de efeito estufa da Alemanha.

“A essência disso é eliminar o desperdício, pois quanto maior o desperdício mais dinheiro gasto”, diz o diretor executivo do NRDC, Peter Lehner. “Se todos os americanos adotassem uma gama bastante modesta de ações, a maioria realmente pouparia dinheiro e faria uma grande diferença.”

As recomendações, além de voar menos e desperdiçar 25% menos de comida, incluem: dar ou ir de carona, ao menos uma vez por semana (equivalente a 75 milhões de toneladas de CO2 não emitidas até 2020, o CO2e); manutenção do veículo, calibrando corretamente os pneus (45 milhões de toneladas de CO2e); reduzir o tempo gasto em um veículo em marcha lenta pela metade (40 milhões de toneladas de CO2e); um melhor isolamento térmico em casa (85 milhões de toneladas de CO2e); termostatos programáveis (80 milhões de toneladas de CO2e); redução do consumo de energia por aparelhos desligados mas no modo “standby”, a chamada demanda fantasma (70 milhões de toneladas de CO2e); utilizar água quente de forma mais eficiente, como lavar roupa com água fria (65 milhões de toneladas de CO2; substituição de lâmpadas incandescentes por lâmpadas fluorescentes compactas (30 milhões de toneladas de CO2e); comer carne de frango duas vezes por semana (105 milhões de toneladas métricas toneladas de CO2e); aumentar a reciclagem de papel, plásticos e metais (105 milhões de toneladas de CO2e); comprar aparelhos da linha EnergyStar apenas quando os velhos estiverem imprestáveis (55 toneladas métricas de CO2e); e consumo “consciente”, como, por exemplo, comprar menos água engarrafada (60 milhões de toneladas de CO2e).

“Tomamos más decisões o tempo todo”, diz Sabine Marx, diretora adjunta do Center for Research on Environmental Decisions at Columbia University, por causa de informações incompletas ou outras dificuldades, como, or exemplo, os elevados custos de equipamentos para isolamento térmico. Superá-las, diz Marx, “não significa manipular as mentes das pessoas”, mas sim facilitar as boas decisões.

Por exemplo, as taxas de doação de órgãos variam muito na Europa: desde 100% na França e na Polônia, até a 17% no Reino Unido e a apenas 4 % na Dinamarca. A diferença não pode ser atribuída a diferentes visões culturais sobre doação de órgãos, mas sim se o país tem uma política que incentiva a doação ou não. 

NRDC, o Garrison Institute e outros esperam trazer esse tipo de escolha para o mundo do comportamento pessoal. Parte disso é resultado da frustração com medidas de política mais ampla, especialmente a nível nacional, quando se trata de enfrentar as mudanças climáticas. O principal benefício da ação pessoal é que ela pode começar imediatamente, acrescenta. Lehner admite que sua organização não tem ideia de como convencer as pessoas, por conta própria, a realizar esses 14 passos na próxima década. E há perigo significativo de que iniciativas para eficiência energética, em última instância, possam aumentar o consumo de energia. “O risco é bastante claro”, observa Speth. “Você pode comprar duas geladeiras EnergyStar, por exemplo. Temos de diminuir esse consumo excessivo e sair dessa armadilha consumista.”

Comentários

  1. O comentário que faço aqui diz-se a respeito desse tipo de escolha p/o mundo do comportamento pessoal de que trata o artigo de David Biello. As mudanças climáticas dizem a respeito do termo "CLIMATÉRICO", este, distinto do outro termo "CLIMATÉRIO". O benefício da ação pessoal realmente trata de convencer as pessoas no que tange as suas responsabilidades eco-ambientais. Se o risco é bastante claro, todavia, não devemos nos esquecer de atribuir mais responsabilidades nos 14 passos sugeridos na próxima década. A eficiência energética tem como desiderato a oferta de energia que, a princípio, deve ser consumida. Este consumo é a palavra chave do risco de que a sociedade como um todo tem de pagar. Duvidam disso? Me critiquem!
    Edward Rubens Carneiro
    Economista e profº Universitário.

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  2. Parabéns Edward.
    Grande avanço nessa discussão sobre consumo responsável (excessivo).
    Um abração.
    Marcus Vinicius.

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